A QUIMBANDA É ÚNICA?

EXISTE UMA QUIMBANDA VERDADEIRA?

Essa é uma pergunta recorrente dentro das caixinhas do Instagram: “Existe uma Quimbanda única?” ou ainda melhor: “Existe uma Quimbanda verdadeira?”.

Essas perguntas partem sempre de pessoas que provavelmente já foram ludibriadas em suas vidas e tem medo de cair em nova armadilha. Porém, a questão não é tão fácil de responder, pois não existe um tronco centralizador e nem uma unidade ou figura de autoridade que define como a Quimbanda é ou deixa de ser.

Justamente por isso que surgem diversas famílias, que muitas vezes se digladiam em busca de provar seu ponto de vista, se esquecendo de que nada é tão homogêneo quando falamos de espiritualidade. Para entender melhor isso é só partir do princípio de como as macumbas são formadas.

Normalmente ouvimos a história de que a Quimbanda surge da Macumba, assim como a Umbanda e que a Macumba em si é formada por diversos elementos populares da sociedade marginalizada (ou seja, o povão). Então, normalmente repetimos que a Macumba e suas crias foram geradas por meio da cultura africana, da cultura indígena e da cultura europeia. Só que essa afirmativa, apesar de não estar errada, é simplória. 

Veja que na África existem centenas, senão milhares, de cultos diferentes e de formas diferentes de práticas espirituais. Em um mesmo espaço podemos encontrar a cultura do povo do Dongo, do Congo, de Matamba e de Lunda (e mais um monte), agora imagina extrapolar isso para a África como um todo? Isso, também, vale para as tradições indígenas, que tentamos simplificar dentro do ramo Tupi, porém mesmo em um litoral pequeno com o paulista existiam diversas etnias tupis convivendo, isso sem falar do povo do interior e de outras localidades: É muita diversidade!

Quando falamos de Europa aí pensamos em algo homogêneo, mas se enganam… não era… Enquanto existia uma realidade medieval (do tipo que se vê na escola) nos territórios que viriam a ser França, Itália, Inglaterra e Alemanha, a realidade desse período no leste europeu era diferente, na península ibérica era diferente e assim por diante. 

A península ibérica teve muita influência Moura, ou seja, Islâmica. A magia ibérica é diferente da magia italiana ou etrusca, que é diferente da magia teutônica etc. Assim como seus mitos, suas crenças ancestrais etc.

Agora imagina tudo isso sendo amalgamado no Brasil colônia? Com o rompimento das informações e do vínculo com a terra materna, sendo necessário reaprender a cultuar os ancestrais em uma nova terra, com uma nova flora e uma nova fauna? 

Imaginem a multiplexação de ideias, de conceitos, de formas de fazer diferentes que foram surgindo e que foram se encontrando dando origem a muitas outras formas de fazer feitiçaria e práticas religiosas. Quando a Macumba surge no final do século XIX e início do século XX, ela já traz essa identidade de diferenciação e de múltipla influência. 

Procure ver o livro “As Religiões no Rio” de João do Rio para entender o caldeirão místico-religioso que havia. Na parte dedicada a macumba você vai ver a citação de diversos feiticeiros e cada um fazendo feitiço de uma forma diferente e é assim que as coisas são.

E olha que estamos falando de uma cidade, agora extrapole isso para UM BRASIL todo. Consegue imaginar? Pois é…

Quem procura algo que seja “O VERDADEIRO” sempre irá se deparar com discursos inflamados, pensamentos higienistas e principalmente, muita retórica. O que é preciso entender é que diversas famílias de feiticeiros faziam os seus feitiços de formas diferentes. Daí surge a diversidade de formas de praticar a Umbanda, a Quimbanda, o Candomblé, o Catimbó e outros cultos que têm essa sopa mística como base primordial.

Então, para deixar bem didático, explico que uma família que recebi um determinado EXU recebe as fundamentações desse Exu, muitas vezes baseadas nas influências religiosas que ele teve em vida e no qual sua família já estava ciente e familiarizada. Surgem assim as diversas linhas de Quimbanda.

Quando falamos, a Quimbanda Tradicional, estamos sendo apenas rasos no discurso. O certo é dizer o tronco tradicional de Quimbanda é da qual derivam as quimbandas mais antigas, como a quimbanda Nagô, Mussurumim e Malei, mas outras quimbandas foram surgindo (e não me estranharia surgirem novas formas de pensar nesse sentido) como a quimbanda gaúcha, como a quimbanda Xambá, como a Quimbanda Angola, como a Quimbanda Congo, como a Quimbanda Luciferiana (que só aqui tem mil formas diferentes de praticar) etc.

Cada família segue seus princípios e o que determina se algo é quimbanda ou não, naturalmente é o culto a entidades espirituais que chamamos de Exu e a presença massiva de feitiçaria em tudo que é feito. 

Claro, que esse é um pensamento meu, dessa família da Cova de Tiriri e não deve ser considerado um pensamento canônico para todas as Quimbandas. 

Existe também a questão da Quimbanda Original na África, mas isso fica para um próximo artigo.

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Tata Nganga 𝗭𝗲𝗹𝗮𝘄𝗮𝗽𝗮𝗻𝘇𝘂

Dirigente do Templo de Quimbanda Cova de Tiriri

Para orientações espirituais, trabalhos, feitiços e iniciação visite o site www.covadetiriri.com.br