LIBERDADE VS. LIBERTINAGEM NA QUIMBANDA

A Quimbanda atraí adeptos pela sua liberdade de culto e de pensamento, entretanto algumas pessoas acreditam que isso lhes dá autoridade para fazerem o que bem entendem, sem regras, sem restrições e sem repercussões, se tornando pessoas mimadas e arrogantes.

Quando ouvimos aquela velha expressão “Liberdade não é libertinagem” devemos nos atentar ao significado do que é ser livre e do que é ser libertino. Liberdade é a independência legítima de uma pessoa, direito daquele que não é cativo fisicamente ou por meio de ideais, aquilo que é solto e não se encontra constrangido (preso). Entretanto libertinagem é outra coisa, em sentido estrito significa “Aquele que se entrega imoderadamente a prazeres sexuais” ou em sentido figurado é “insubmissão e indisciplina”.

O Kimbanda está trabalhando para se tornar um mestre da vida, desta forma adquirindo sua liberdade, não estando atrelado as condutas moderadoras da moral e ética padrão que é castradora, entretanto ainda assim ele deve estar atrelado a um movimento cósmico que ressoa com sua alma, que é sustentado pela natureza do seu ser. Por isso, que o Kimbanda não se torna um escravo de vícios e paixões inferiores, apesar de poder vivenciar tudo em sua vida, sem necessitar de se tornar um asceta.

O Kimbanda pode beber, pode se divertir, pode fazer sexo, pode ter fetiches sexuais, pode escolher a sua sexualidade, pode viver de forma livre, mas ele nunca estará escravizado a isso, tendo que TRANSAR a todo momento e com TODO mundo, tendo que SE DROGAR constantemente, tendo que se ENTORPECER para aguentar a vida. Aí que as coisas se confundem. Sabemos de muitas pessoas que buscam as magias de dominação sexual para obterem prazeres com pessoas de seus interesses, sem pensar no que aquilo está causando para a sua vítima. O Kimbanda tem a liberdade de praticar isso, mas seria isso viável? Isso tem linha de acontecer? O Cosmo de Exu está atrelado a essa ideia? Muitas vezes o que vejo é supostos Kimbandas tentando ESCRAVIZAR exu para que ele faça toda as suas vontades. Pior, que depois vem com discursos de “liberdade”, de mestres que privavam a pessoa de conseguir o que queria, etc. Aqui entramos no outro ponto da libertinagem.

O adepto de Kimbanda só se torna totalmente livre quando ele toma a maestria. Nesse momento ele emancipa-se do axé de seu Tata e sua Mameto e sustenta seu próprio axé, com todos os bônus e ônus sobre isso. Isso não quer dizer que ele está livre para fazer o que bem entender, mas que ele está livre para compreender que tudo tem fluxo e refluxo, que ele pode fazer, mas existem refluxos a serem tratados. De qualquer forma, a maestria é uma liberdade, porém ela deve ser conquistada por mérito, afinal ninguém se torna mestre sem ser aluno antes.

Dentro do aspecto de insubmissão e indisciplina, muitos Kimbandas acham que só por estarem iniciados isso lhes dá autoridades que não possuem. Dentro de uma família tradicional de Quimbanda, as regras do jogo são claras: O Mestre manda e os discípulos obedecem. Isso quer dizer que você vai limpar muito chão, muita faca e vai fazer muito serviço braçal, pois é uma forma de aprendizado. O Mestre passou por tudo isso e sobreviveu, superou e se tornou o que ele hoje é. Mas tem muito iniciado que não consegue nem pegar ervas para despertar, tem preguiça de fazer um padê ou de ajudar a preparar o almoço dos outros trabalhadores que estão fazendo os fundamentos, que podem se dirigir a pessoas de mais alta hierarquia com arrogância e prepotência (muitas vezes disfarçada de “conselho amigo”). Aprendam uma coisa, o noviço está abaixo do iniciado, que está abaixo do sacerdote, que está abaixo do mestre. O Mestre manda em TODOS os que estão abaixo dele, um sacerdote pode orientar e exigir trabalho dos adeptos iniciados e dos noviços, mas esses, esses não têm poder algum para mandar em nada e nem ninguém, se não lhes for conferido pelo seu Tata ou Mameto.

É comum ir para função e alguém tirar uma “enxaqueca” do bolso, uma “fadiga” da mochila ou um “problema” para resolver enquanto joga Candy Crush no celular, enquanto os outros trabalham. Mas na hora da incorporação, vai lá, bate no peito, faz caras e bocas e quer mostrar o quão FORTE é seu Exu. Faça-me o favor, né?

Então entendam, que tudo tem limite, até nas brincadeiras. Claro que em família, podemos brincar uns com os outros, mas cuidado para não ultrapassar a linha do respeito, afinal, o sacerdote também está acima de você pois já passou pelo que você passou.

Os fragilizados de caráter, os preguiçosos, a geração que quer tudo na mão e que tem a filosofia de que todos tem que lhe respeitar, mas ela mesma não respeita as pessoas, essas pessoas, não estão preparadas para a Quimbanda.

Quimbanda não é para todos, pois nem todos tem a força de caráter necessária para suportar a Quimbanda.

Tata Nganga Zelawapanzu

Mestre de Quimbanda Nagô e Mussurumim

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